Não é caso de ser anti-social, dear Watson. Diria que se trata de desânimo inexplicável e da boa sensação de estar só. É como passar duas horas em um shopping olhando vitrines, fazendo contas de quanto preciso ganhar para gastar com sapatos, livros e jeans (não necessariamente nessa ordem) e pronto, ponto.
É não ter que pensar. É ficar com a mente vazia, pensar (muita) besteira, deixar-se ser ingênua, olhar revista de fofoca, flertar com o invisível, rir sozinha dos outros, imaginar o que eles falam e ter nojo,
as usual, de escada rolante.
Respirar os ácaros alheios, escutar a música brega de comédia romântica adolescente e balbuciar a letra (em público, no máximo sussurro). Enjoar do número de pessoas existentes por metro quadrado e ficar feliz por não haver indianos por perto, ainda que aconteça uma feira indiana.
Aliás, se perguntar como comprava aquelas coisas e achava bonito. Encher o prato de sushi, pedir uma bebida light e gastar as calorias em um sorvete no cartão de crédito. Querer ver o céu e ver somente casais bonitinhos, apaixonadinhos, grudadinhos, todos com amorzinho e fofinhos em cada canto.
Prender a respiração, quase levar uma revista do mês passado, sair dali, atravessar a faixa sem pressa e esperar o zebrinha. Colocar óculos, fingir ter cara de competente e ficar sentada jogando Treasure Towers no celular enquanto o tempo não passa. Não pensar em nada.
Aí, dear Watson, deixo de existir aos pouquinhos, logo não penso.
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