Saturday, January 13, 2007

O ciclo do bom vestido

Depois do tudo, nada como um bom vestido para melhorar. E os outros dirão que é futilidade. Coitados: só sabem usar espartilhos apertados (até a palavra 'espartilho" é sufocante) e não sabem como é a sensação de ser parte do vento. O bom vestido melhora faz o espelho sorrir.

O bom vestido é solto, despojado e tem, claro, "volantes" (sim, vocábulo em espanhol). Então, depois de ser vento, o ser se torna fogo. Quente. Provoca. E como o vestido é realmente bom, cai na terra e se mela todo. Se ela nunca se lambuzou no chão, ela nunca soube usar o vestido. E pra terminar o ciclo (terminar não, o ciclo se renova. Sempre.), a água. Uma bendita chuva ou chuveiro pra ensopar. O vestido ficará pesado e colado ao corpo. A água será ele, ele será a água e ambos serão o ser.


Após isso, é certeza de se sentir melhor.

Sunday, January 07, 2007

Comer.

Fui escrever nos espaços em branco. Ligar os pontinhos e acabar na forca. Mas eu sou super poderosa e saio voando por aí. Entao,
Eu como
Eu como
Eu como
Você!


Depois, saio a correr o mundo, a correr perigo.

Thursday, January 04, 2007

A volta.

Voltávamos do jantar, eu satisfeita. Ou melhor, insatisfeita, a caminhada matinal seria em dobro. Ah, a vã preocupação com os números que a balança mostra ainda pairava no ar. E éramos três: eu, ela e seu namorado, o agregado. He’s such a nice man, todos dizem.
Tocava Lulu Santos. Lulu é legal e consegue pintar muitas figuras calmas, além de lembrar férias: todos estavam de férias. Eis que o carro deu partida para voltar para casa, motorista começou a dirigir e vrum-vrum. Eu no banco da frente. Eles, o casal, atrás. Era noite, era escuro, o carro também preto. Ainda Lulu e eu a cantar baixinho por cima. E sempre a confundir uns versos. O licor estava presente em minhas veias.
Abri um pouco a janela, o licor subia caloroso pelo meu pescoço. Passou. E foi aí que inventei de querer pensar em algo. Quando não há o que conversar, gosto de pensar. Lulu já não bastava, dispensei-o. Dispensei as ondas, os dias e suas sereias. Por que não chegávamos logo? O licor já tinha ido embora, o vento entrava e agora esfriava.
Poderia pensar no que havia pensado muito antes. Mas não. Eu não queria pensar naquele convite pra cinema. Os cinemas eram sempre muito machucadores com ele, sabe? Pois é, eu não quero saber mais. E não quero pensar nisso. Ah sim, a caminhada matinal. Que sono. Senti saudades de Lulu.
Aí, bem quando sentia falta das ondas e das imagens bonitas o cabelo deveria ser arrumado. É. Isso que deve ser feito na volta para casa e sem o que pensar. Abaixei o espelhinho do protetor do carro e. E nem liguei para o cabelo. Cabelo? Que cabelo?
Ela e o namorado se beijavam. Só que não era um beijinho. Era um beijo de cinema, daquele filme que eu recusara o convite. O beijo era de verdade, os lábios se contorciam e as bocas se fundiam. O agregado a beijava. É lógico que eles se beijavam, todavia não tão explicitamente. Não na minha frente, pelo menos com tanta feracidade.
Voltei o espelho para o lugar e poderia ter feito outra coisa. Não existia mais Lulu para cantar e agora os meus ouvidos escutavam somente o ruído de tantos beijos.

O carro parou, enfim chegamos. Eles sorridentes e eu ainda a ouvir e ver tanto barulho. Tanto beijo.