Thursday, January 04, 2007

A volta.

Voltávamos do jantar, eu satisfeita. Ou melhor, insatisfeita, a caminhada matinal seria em dobro. Ah, a vã preocupação com os números que a balança mostra ainda pairava no ar. E éramos três: eu, ela e seu namorado, o agregado. He’s such a nice man, todos dizem.
Tocava Lulu Santos. Lulu é legal e consegue pintar muitas figuras calmas, além de lembrar férias: todos estavam de férias. Eis que o carro deu partida para voltar para casa, motorista começou a dirigir e vrum-vrum. Eu no banco da frente. Eles, o casal, atrás. Era noite, era escuro, o carro também preto. Ainda Lulu e eu a cantar baixinho por cima. E sempre a confundir uns versos. O licor estava presente em minhas veias.
Abri um pouco a janela, o licor subia caloroso pelo meu pescoço. Passou. E foi aí que inventei de querer pensar em algo. Quando não há o que conversar, gosto de pensar. Lulu já não bastava, dispensei-o. Dispensei as ondas, os dias e suas sereias. Por que não chegávamos logo? O licor já tinha ido embora, o vento entrava e agora esfriava.
Poderia pensar no que havia pensado muito antes. Mas não. Eu não queria pensar naquele convite pra cinema. Os cinemas eram sempre muito machucadores com ele, sabe? Pois é, eu não quero saber mais. E não quero pensar nisso. Ah sim, a caminhada matinal. Que sono. Senti saudades de Lulu.
Aí, bem quando sentia falta das ondas e das imagens bonitas o cabelo deveria ser arrumado. É. Isso que deve ser feito na volta para casa e sem o que pensar. Abaixei o espelhinho do protetor do carro e. E nem liguei para o cabelo. Cabelo? Que cabelo?
Ela e o namorado se beijavam. Só que não era um beijinho. Era um beijo de cinema, daquele filme que eu recusara o convite. O beijo era de verdade, os lábios se contorciam e as bocas se fundiam. O agregado a beijava. É lógico que eles se beijavam, todavia não tão explicitamente. Não na minha frente, pelo menos com tanta feracidade.
Voltei o espelho para o lugar e poderia ter feito outra coisa. Não existia mais Lulu para cantar e agora os meus ouvidos escutavam somente o ruído de tantos beijos.

O carro parou, enfim chegamos. Eles sorridentes e eu ainda a ouvir e ver tanto barulho. Tanto beijo.

1 Comments:

Blogger Flávio A said...

marina, vc precisa arranjar um namorado, certo? porque o ciúme tá grande demais.

arranje um lá da academia.

3:39 AM  

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