Friday, April 07, 2006

Essa moça tá diferente...

Eu estava começando a escrever outro texto, outro devaneio bobo, quando meu pai me pediu para ir entregar o cheque do condomínio para o síndico. E lá fui eu, um andar para cima, tocar a campainha do apartamento dele e ficar esperando os segundos necessários até que alguém, do outro lado, gire a chave e abra a porta para me receber.Mas dessa vez esses segundos me pareceram bem mais do que apenas segundos.

Pois é... eu já estou com dezoito anos.

Há sete anos eu repito esse trajeto: pega o elevador - sobe um andar - toca a campainha. Sete anos olhando para frente, para mesma porta de mogno num tom nem claro nem escuro. E essa mesma porta também me vê, e me viu crescer. Viu a Srta Rosa de franjinha, e viu a Srta Rosa de cabelão. De uniforme de escola, cansada de tanto ouvir sobre Combinatória e Revolução Francesa; e me vê preocupada com o jornal que é para entregar na semana que vem. Me recebeu vestido florido, ainda sem alcançar o olho mágico e agora me encontra dois palmos mais alta - e ainda mais um, por culpa do salto alto.

E além de me ver, ela me sentiu. Triste, feliz, preocupada, boba, insegura, inocente, apaixonada, com dor-de-cotovelo, alegre, pensativa, arrependida, vingativa, irritada, decidida, decepcionada, orgulhosa, animada e tantos mais sentimentos existirem nesse mundo, podem acrescentar nessa lista que eu senti. Porque não foi apenas a altura do meu olhar que alcançou o olho-mágico, nem o meu corpo que desenvolveu, muito menos os dígitos do campo "idade" que aumentaram. Eu mudei mesmo - e como mudei - foi aqui dentro. E essa porta, que recebeu a menina-Srta Rosa, aquela menininha calma, do sorriso tímido e da franjinha de lado, meio que insegura, com aquela inocência de quem não conhece nada da vida, tocando a campainha com delicadeza de princesa, de menina mesmo, agora vê tocando a campainha, com decisão, a mulher-Srta Rosa, que já não se esconde por detrás de franja, já não tão insegura, nem tão inocente, nem tão tímida...
Mudei, cresci, amadureci. E apesar de já poder ter conta no banco, dirigir, votar, assinar papéis e entrar em boates sem precisar de carteira falsa; e até mesmo depois de já ter me decepcionado, chorado, tido raiva de tudo e de todos e descoberto que nem tudo é como deveria ser, eu continuo enxergando o mundo com os mesmos óculos cor-de-rosa da inocência típica de meninas. Porque, no final das contas, eu continuo sem conhecer nada da vida... e com mais vontade ainda de saber tudo o que ela tem a me oferecer. E diga-se de passagem, algo me diz que não é coisa pouca não!

E nesses segundos que me pareceram bem mais que segundos, me restou uma pergunta: será que a porta se orgulha da Srta Rosa que me tornei - ou melhor, daquilo que estou me tornando?

Mês que vem eu pergunto pra ela!

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